Também são assim as estrelas que habitam nosso mundo, inebriando-nos com sua eloqüência, encantando-nos com sua voz, fascinando-nos com sua beleza. Estrelas criadas pela mídia, alimentadas pelo sucesso e muitas vezes desorientadas em si mesmas.
Histórias que de tanto se repetirem, chegam a nem mais surpreender. Atores, cantores, escritores, poetas e formadores de opinião de todos os tipos que vivem uma vida breve, porém intensa, como se tivessem consciência do dia e hora do momento de partir. Então produzem quase que insanamente, esquecendo-se de si próprios, deixando-se levar por falsos valores e autodestruindo-se.
Recentemente, foi Amy Winehouse quem nos deixou, depois de ter brindado o mundo com sua voz rouca, sua imagem meio retrô e, infelizmente, sucessivos escândalos. Como ela, passaram por experiências semelhantes Janis Joplin, Kurt Cobain, Elis Regina, River Phoenix, Cazuza e uma infinidade de nomes.
Vidas levadas pelo vento, arruinadas por lhes faltarem o mais basilar sentimento de preservação, comum em sociedades que valorizam o ser e não o ter, nas quais os indivíduos sabem da importância que têm para familiares e amigos e de como cada movimento que realizam pode afetar os que lhes estão ao redor.
Indivíduos com resistência moral abalada, personagens amargos, seguidores inconscientes da Doutrina Existencialista de Jean Paul Sartre, segundo a qual o sentido da vida é a morte que, como pode vir de um momento para o outro, leva-os a viver o hoje, ignorando as conseqüências dos atos, pois o amanhã pode não existir. Então, entregam-se às drogas, ao alcoolismo, às relações inconseqüentes, à violência.
Tudo é transformado no caos e é nesse ambiente que produzem suas obras, que talvez nos encantem exatamente por refletirem em acordes, palavras e sentimentos tresloucados tudo o que nossa covardia é capaz de admirar nos outros, mas repudiar em nós mesmos.
Aí vem a morte precoce e alguém diz “Mais uma estrela perdida para as drogas”, como também não tivéssemos parcela de culpa nessa perda, por alimentarmos a vaidade desses ídolos, que para nos satisfazerem mais e mais, mergulham no lado sórdido da vida. No fundo, até mesmo torcemos para que sucumbam, para que nos entretenham com mais um escândalo, tornando público algo que deveria ser tratado em família, onde o apoio nunca deveria faltar.
Pena que a mídia faz dessas pessoas, apesar de todos os defeitos e com todas as qualidades que verdadeiramente têm, mais estrelas do que aquelas que brilham com uma luz quase que etérea, como se estivessem a muitos anos-luz de nós, tímidas no meio da multidão.
Quantos sabem que João Carlos Martins foi exímio pianista, que após grave doença, hoje brilha como maestro? Alguém já ouviu falar de Aparecida Conceição Ferreira, que sem qualquer ajuda do poder público, conseguiu levantar um hospital que chegou a atender a 300 afetados pelo chamado “fogo selvagem”? Quantos foram informados que Carlos Chagas Filho, brasileiro, administrou um dos principais centros de pesquisa do mundo, no Rio de Janeiro, e para o qual afluíam cientistas de todas as partes?
Infelizmente, boas notícias não trazem o retorno publicitário desejado ... Quem sabe um dia saberemos dar valor às verdadeiras virtudes? No meio tempo, aguardemos que estrelas nasçam, cresçam, brilhem e, num átimo de tempo, tornem-se apenas buracos negros a partilharem nossa atenção com estrelas de grandeza então superior.
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