Fiquei sabendo há alguns dias atrás do afastamento de Steve Jobs da presidência da Apple, e nesta última sexta, ao navegar pela internet, vi uma imagem na qual ele, muito magro, parecia caminhar amparado pela ajuda de uma pessoa. Até aí, tudo bem, não fossem os comentários, mais de 200, que fiz questão de ler um a um. Muitos eram de solidariedade, o que é natural no caso de uma pessoa pública. A maioria, porém, ressaltava que nem a sua incrível fortuna o estava livrando dessa doença. Outros, ainda, transmitiam o mais puro sentimento de pena.
Pois bem, o que tem a ver o dinheiro com a doença? Parece que ter muito dinheiro é uma maldição e a doença grave uma punição. Desde quando dinheiro ganho honestamente, independentemente da quantidade, é pecado ou ofensa àqueles que não o têm? Tenho a sensação de ler nas entrelinhas dessas declarações uma pitada da mais pura inveja. Uma inveja do tipo “ficou rico, mas vai morrer jovem sem poder usufruir daquilo que nunca vou poder ganhar”. Quando muito, o dinheiro aqui pode ser lembrado como um coadjuvante para que tenha acesso aos caros tratamentos e, sobretudo, medicamentos que não raro devem ser consumidos por 1 ou 2 anos, quando não mais, até que a doença seja curada, ou pelo menos controlada, aumentando a sobrevida, ou melhorando a qualidade do que resta da vida.
Outro ponto que me incomodou nessas declarações foi o sentimento de pena. Para começar, se é para ter pena de alguém com uma doença grave, acho lícito que o sentimento também seja externado com os desconhecidos. Por um acaso famoso tem mais direito a pena do que os ilustres desconhecidos? Por um acaso famoso, rico, bonito, jovem e inteligente deve ser imune a doenças que, por alguma razão, devem afetar somente os que não têm nada? Afinal de contas, como já não tem nada, não vai fazer falta! Ora, se querem sentir pena, então que visitem os pacientes internados nas enfermarias do Hospital do Câncer, desenganados e muitas vezes abandonados pela família, ou quem sabe as crianças do Gracc. São milhares os casos de câncer que pululam hospitais de todo tipo, dos mais ricos aos menos afortunados.
O ponto é que os pacientes de câncer, doença que em muitos casos já tem cura, embora dolorosa e inacessível para todos, precisam de solidariedade, força, energia positiva, boas vibrações, ânimo, mas não pena, que não faz outro que os colocar ainda mais para baixo, que lhes dar a certeza de que a vida lhes está esvaindo por entre os dedos, precocemente envelhecidos. Ao invés de ter pena, é mais útil arregaçar as mangas e servir de voluntário, como as senhoras de rosa do Hospital A. C. Camargo, que levam solidariedade e companhia aos que tem nelas a única família.
Como diria Divaldo Franco, mentes que ociosas. Preferem ser solitárias em suas penas e comentários inoportunos, ao invés de serem solidárias. Ademais, não importa se a vida é curta ou longa, mas o que é feito dela e, para que tenha valido à pena, talvez bastem alguns poucos anos.
Poxa, vc leu os 200 comentários mesmo?;-) Brincadeira à parte, famoso dá audiência para a mídia e é sempre motivo de fofoca para os desocupados. O problema é que estes, na era criada por Steve Jobs - do virtual quase tão real quanto o próprio real - não percebem mais barreiras e se dão ao direito de falar a besteira que quiserem para o mundo.
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