domingo, 30 de dezembro de 2012

MORRE, AOS 103 ANOS, RITA LEVI-MONTALCINI, A GRANDE DAMA ITALIANA DA CIÊNCIA


A cientista e senadora italiana Rita Levi-Montalcini, Prêmio Nobel da Medicina de 1986, morreu neste domingo, aos 103 anos, em sua residência em Roma. “O corpo faz aquilo que quer. Eu não sou corpo: sou a mente”, disse numa entrevista, quando completou 100 anos.


Infatigável, a cientista, nascida em Turim em 22 de Abril de 1909, numa família judia sefardita (pai engenheiro, mãe pintora), foi nomeada em agosto de 2001 senadora vitalícia pelo então Presidente da República italiana, Carlo Ciampi, pelos seus “grandes méritos no campo científico e social”. Ela não parava. “Vou muito bem, física e moralmente, e nunca trabalhei com tanto entusiasmo como neste último período da minha vida”, garantia no seu 101º aniversário, meses depois de ter partido um fêmur.


Membro das mais prestigiadas academias científicas internacionais, como a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos ou a Royal Society no Reino Unido, Rita Levi-Montalcini foi a primeira mulher italiana a receber um Nobel científico e também a primeira a ser admitida na Academia Pontifícia de Ciências.


A investigação científica que lhe valeu o Nobel da Medicina de 1986, dividido com o norte-americano Stanley Cohen, que com ela trabalhou na década de 1950, na Universidade Washington, em St Louis (Missouri, EUA), foi a descoberta de uma proteína importante para o crescimento, manutenção e sobrevivência dos neurônios – um fator de crescimento. Na verdade, foi o primeiro de muitos outros fatores de crescimento a serem descritos e recebeu o nome de NGF (nerve growth factor).


Esta proteína evita, ou pelo menos reduz, a degeneração celular e problemas na sua produção podem estar relacionados com várias doenças em que são afetadas as células nervosas, como o Alzheimer, a esclerose múltipla, a demências e a esquizofrenia. O fator de crescimento NGF também pode desempenhar papéis importantes nas doenças cardiovasculares.


“A minha inteligência? Um pouco acima de medíocre. Os meus únicos méritos foram empenho e otimismo”, disse Rita Levi-Montalcini, cujo leve sorriso era uma imagem registrada. Foi a ganhadora do Nobel que mais tempo viveu, até agora.


Rita Levi-Montalcini, no entanto, teve de enfrentar a vontade do pai para se tornar cientista: não era uma coisa comum naquela época uma mulher inscrever-se num curso de medicina, no qual se forma em 1936.


Pouco tempo depois, vai para a Bélgica, onde vivia uma irmã e onde recebeu um interessante convite para trabalhar. Entretanto, com o desenrolar da guerra, prefere retornar à Itália, onde, sob condições no mínimo restritivas, continuou a desenvolver suas pesquisas que, anos depois, levaram-na a Estocolmo.


Após a guerra, recebeu um convite para trabalhar nos EUA – onde fez sua carreira científica. Só voltou a viver em Itália em 1977, depois de se aposentar.


Foi fundadora, em 2002, do Instituto Europeu de Investigação sobre o Cérebro (EBRI, na sigla em inglês), com sede em Roma; também presidia uma fundação que leva seu nome, criada em 1992, e que tinha por objetivo primordial financiar os estudos de mulheres africanas, na Etiópia, no Congo e na Somália.


Adaptação do texto de Clara Barata, Público P (www.publico.pt)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

DESTINO: Itália


Não importa se o destino é a Itália ou uma cidade do litoral do nordeste, a palavra de ordem quando se pensa em tirar aquelas tão sonhadas férias é planejamento, que já começa com a escolha de uma boa companhia aérea e na categoria mais confortável que o bolso pode pagar.

Comprando os bilhetes com antecedência, é possível conseguir bons preços, além de parcelar o pagamento em diversas vezes (sem juros!), o que acaba diluindo o investimento ao longo dos meses que antecedem a viagem. A TAM, por exemplo, está com promoções ótimas para bilhetes adquiridos até o dia 31 de dezembro. Ida e volta em executiva para Milão, com saída em meados de junho e permanência de 3 semanas, está custando cerca de R$ 10.500. Já se for em econômica, o preço cai para R$ 3.500. Claro que o ideal é comprar um bilhete em econômica e pedir um upgrade para a executiva. Melhor panorama ainda é aquele em que os bilhetes podem ser trocados totalmente por pontos e isso requer,dependendo da companhia aérea, de 2 a 3 meses de antecedência.

Bem, se seu destino é a Itália, independentemente da companhia aérea que for utilizar, sugiro que comece a viagem por Roma e depois vá subindo, de carro, para terminar em Milão, de onde a maioria dos voos intercontinentais parte.

Você chega em Roma, mas sua viagem não começa propriamente em Roma. Vai apenas fazer uma parada técnica, pois depois de mais de 12 horas de viagem, vai querer se refrescar, trocar de roupa e, aí sim, começar a viagem. Aproveite essas poucas horas em solo romano para se refazer, alugar um carro e fazer um reconhecimento do terreno.

Para essa primeira noite, sugiro um hotel perto do aeroporto, de fácil acesso às rodovias e também ao centro da cidade. Isso tudo parece difícil de encontrar, mas não é. Existem vários hotéis ao longo da Cristoforo Colombo, uma das principais avenidas da cidade, que liga o centro ao mar ( o Aeroporto Internacional de Fiumicino, na verdade, não fica em Roma, mas na cidade de Fiumicino, antigo porto romano), onde você pode passar a primeira noite em Roma. Eu recomendo o Sheraton Roma Hotel & Conference Center (Viale Pattinaggio, 100), cuja diária, com café da manhã (ótimo!), em apartamento duplo (alguns novos, outros nem tanto ...), sai por 153 euros. Para chegar lá, de Fiumicino, só de taxi (deixe para pegar o carro no dia seguinte, pois não vai usar carro em Roma), mas como a distância não é grande, não vai gastar mais do que uns 30 euros. Se já preferir ir motorizado, fique tranquilo, que o hotel tem estacionamento (mas deixe o carro lá, pois ir ao centro de Roma de carro é impossível, já que a cidade não foi feita para a circulação de carros e menos ainda para eles pararem).

O valor das corridas de taxi podem ser verificados no site http://rome.taxi-airports-transfer.com enquanto que o aluguel de carros pode ser feito em diversas locadoras, quase todas com escritórios na saída do aeroporto. Eu costumo usar a Europcar (www.europcar.pt), mas se preferir Avis, ou Localiza, ficam todas uma ao lado da outra.
O custo do aluguel do carro depende, naturalmente, do tamanho do carro e do período de uso (quanto maior o número de dias, menor a diária). Eu sugiro um Classe A, ou uma Lancia Y, que possuem porta-malas suficientes para 2 malas grandes e (talvez) 2 pequenas. O preço é razoável, são econômicos e fáceis de dirigir. Em qualquer caso, um GPS é condição sine-qua-non para encarar as estradas.
Falando em estradas, não se estresse com trocados para pagar os pedágios, pois todos eles (pelo menos todos os que já usei e não foram poucos), aceitam cartão de crédito. É tudo automático. Você pega o bilhete quando acessa a rodovia e, como se tivesse saindo do estacionamento de um shopping, quando deixar a rodovia ao chegar no seu destino, insere o bilhete no local indicado, depois o cartão de crédito e já tem a despesa debitada. Se quiser um recibo, é só responder sim para a máquina, mas como isso vai ser difícil de entender, já fique contente de ter pagado tudo sem formar uma fila quilométrica atrás de você. Na dúvida, entre na fila do pedágio atendida por uma pessoa (eu prefiro a máquina ...).
Bem, de banho tomado, pegue o ônibus do hotel (o bilhete você pega na recepção e paga somente no check-out) e desça no centro (na verdade, ele para nas imediações do Teatro di Marcello) e, de lá, siga explorando a parte romana de Roma (sendo uma cidade milenar, Roma possui vários percursos a serem visitados). Siga pela Via del Teatro di Marcello em direção à Via dei Fori Imperiali, percorra-a até o final, contorne o Coliseu (em Italiano, Colosseo), siga pela Via Celio Vibenna e depois pela San Gregorio, para virar na Via del Circo Massimo, que você vai percorrer até chegar no rio, passar em frente à Ilha (isola) Tiberina, para entrar na Via del Foro Olitorio e retornar ao local onde o ônibus do hotel passa (se quiser, também pode voltar de metrô, mas vai ter que caminhar um pouquinho, pois a estação mais próxima do hotel, não fica propriamente perto do hotel e caminhar à noite naquela região não é muito bom).

Se quiser, quando retornar a Roma, depois de ter descido a Nápoles, Pompéia e Amalfi, pode entrar em alguma atração que tiver chamado mais atenção. Eu dispensaria caminhar pelos Fóruns Imperiais (www.capitolium.org), ou entrar no Coliseu (www.il-colosseo.it). Dependendo do seu gosto, porém, pode valer à pena uma visita aos Museus Capitolinos (www.museicapitolini.org), de onde você tem uma bela vista dos Fóruns.

Com jet-leg e tudo mais, melhor voltar para o hotel cedo, comer algo no bar da piscina, dormir bem e começar ao dia, depois de um café bem reforçado, com muita disposição.

Se já tiver alugado o carro, carregue as malas e parta em direção a Nápoles, que fica a 228Km do Sheraton, seguindo pela A1. Eu nunca me hospedei num hotel em Nápoles (somente uma vez, mas prefiro riscar aquilo da minha memória), onde normalmente fico com amigos, mas um hotel que parece ser bom (pelo menos é bem recomendado entre os internautas) é o Hotel Tiempo (www.hoteltiempo.it). Fica bem localizado (perto do metrô), não muito longe do acesso à rodovia, além de custar cerca de 100 euros por noite para duas pessoas.

Se o hotel for bom, fique duas noites, pois vai precisar disso para conhecer um pouco de Nápoles (lembra um pouco Salvador, ou seja, abra os olhos!), visitar Pompéia (ou Ercolano) e Capri.

Em Nápoles, há cinco coisas que recomendo visitar: o Palácio Real (http://palazzorealenapoli.beniculturali.it), a Via San Gregorio Armeno (http://it.wikipedia.org/wiki/Via_San_Gregorio_Armeno), a Cappella Sansevero (www.museosansevero.it), a Galleria Umberto I (http://en.wikipedia.org/wiki/Galleria_Umberto_I) e o Parco di Capodimonte (www.boscodicapodimonte.it).

O Palácio Real é uma das 3 residências oficiais do Reino das Duas Sicílias. Não é a mais faustosa. Esse título é da residência de Caserta (cidade que fica no caminho entre Roma e Nápoles) e que, segundo alguns, é mais bonita que Versalles. De qualquer modo, é interessante do ponto de vista arquitetônico e também por conta de algumas peças expostas.

A Via San Gregorio Armeno é muito característica, tanto do ponto de vista arquitetônico (as coisas ali estão meio caídas, mas num país com mais de 2 mil anos, o que não está?) e social. Além disso, reúne um grande número de ateliês onde são fabricados (e vendidos!) os famosos presépios napolitanos, cujo representante máximo, no Brasil, foi trazido por Ciccillo Matarazzo e hoje está custodiado no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Lá você encontra desde peças apenas bonitinhas até verdadeiras obras de arte, feitas em papel machê.

Nas imediações da San Gregorio Armeno, é impossível de deixar de visitar a Igreja, hoje museu, de Sansevero. O prédio, em si, não tem nada de mais. Entretanto, ele custodia uma das mais belas esculturas que já vi em minha vida e que põem no chinelo obras de Fidias, grande artista grego, ou mesmo de Bernini, um dos maiores escultores de todos os tempos (não me atrevo a incluir Michelangelo na comparação, pois o conjunto de suas obras não tem igual). Trata-se do Cristo Velato, realizada por Giuseppe Sanmartino em 1753. Não há nada no mundo que se iguale a essa obra em mármore de Carrara, que representa o corpo de Cristo deposto da cruz, coberto por um véu, que parece ter sido colocado sobre a estátua, dada sua sutileza, muito embora seja parte dela e, portanto, também de mármore.

A essa altura, já com fome, sugiro um passeio pela Galleria Umberto I, fantástica obra em estilo Liberty, muito semelhante a outra, localizada em Milão, chamada Vittorio Emanuele II. O ambiente é agradável, construído em ferro e com grande quantidade de vitrais e mosaicos, típicos da época. Possui de lojas de grife e livrarias, além de alguns bares onde poderá degustar um lanche rápido, ou uma genuína pizza Margherita, criada em Nápoles para homenagear a Rainha Margherita.

Se o tempo estiver bom, aproveite a parte da tarde para caminhar pelos Jardins de Capodimonte, sede da terceira residência oficial dos Reis das Duas Sicílias. Somente os jardins já valem uma visita ao local, mas se tiver ânimo, pode visitar pelo menos parte do Palácio, que reúne uma das mais importantes coleções de arte do mundo, com obras de El Greco, Goya e Botticelli, para citar apenas alguns.

Se já quiser levar lembranças de viagem, as porcelanas de Capodimonte são famosas em todo o mundo, embora hoje em dia, com a concorrência chinesa, os artesãos que ainda fazem esse tipo de obra de arte são bem poucos. O maço de flores é pequeno, custa pouco e é bem característico!

Encerre o dia num restaurante especializado em frutos do mar, outra especialidade da cozinha local, além, é claro, dos chamados pratos da dieta mediterrânea, tidos como os mais saudáveis no mundo. Descanse bem, pois o dia seguinte vai ser de longas caminhadas.

O segundo dia na Região da Campanha será dedicado prioritariamente a uma visita às escavações da antiga cidade de Pompéia (www.pompei.it/categoria/scavi.htm), cidade que desapareceu do mapa após a erupção do Vesúvio, vulcão ativo até os dias de hoje, embora atualmente esteja adormecido. Foi no ano de 79 da era cristã que a grande erupção aniquilou Pompeia, cobrindo-a por uma camada de cinzas que asfixiou e depois mumificou seus habitantes, cujos corpos foram encontrados exatamente como estavam protegendo-se das cinzas, no dia da grande catástrofe. Além disso, as cinzas também protegeram os fantásticos afrescos das vilas romanas (Pompéia, além de importante porto, era uma cidade de veraneio das classes romanas mais abastadas), bem como teatros, casas de banho (note as rugosidades construídas no teto abalroado dos banhos quentes, feitas para coletar o vapor condensado e recolhe-lho em canaletas subterrâneas, que são um verdadeiro prenúncio dos edifícios verdes).

Pegue um guia na porta do parque. Pode visitar tudo sozinho, apenas com a planta do local, mas com o guia vai poder entrar em algumas casas belíssimas, fechadas para o público normal. Vale à pena o investimento.

Se tiver ânimo, suba até a cratera do vulcão (www.vesuviopark.it), mas já vou avisando que tem que estar com as pernas bem condicionadas, pois além de longo, o percurso é feito num terreno escorregadio, coberto por pedregulhos de lava solidificada. De qualquer forma, vale à pena. A paisagem é lunar, totalmente diferente do que já viu.

O terceiro dia na Campanha deve ser dedicado à ilha de Capri (www.capritourism.com), joia do Mediterrâneo e sede da casa de Veraneio do Imperador Tibério, herdeiro de Augusto e segundo imperador romano. Ainda existem vestígios da sua antiga mansão que, por meio de uma escadaria subterrânea, comunicava-se à piscina particular, que nada mais era do que a famosa Gruta Azul.

Bem, você chega a Capri através dos aliscafos, barcos super-rápidos, que saem de diversos pontos do Golfo de Nápoles, inclusive do próprio porto de Nápoles, ou de Sorrento, outra cidadezinha interessante, primeira da Costa Amalfitana, mas que vai ter que deixar para outra ocasião, a menos que queira sacrificar algum destino mais adiante, do período total de permanência na Itália.

A visita a Capri pode ser feita em menos de um dia e de lá prosseguir para Roma, no final da tarde. Também pode valer à pena uma noite ali e prosseguir a viagem no dia seguinte, já descansado, depois de uma noite bem dormida num bom hotel e um café da manhã de rei. O Villa Marina Capri Hotel (www.villamarinacapri.com) é um dos melhores da ilha.

A ilha em si, que é dividida em Capri e Anacapri (parte mais alta) já é um show. Perca-se caminhando entre suas ruelas, eventualmente visite as escavações da Villa de Tibério, não deixe de passar em frente aos Faraglioni (formações rochosas que lembram um portal) e, naturalmente, não economize uma visita à Gruta Azul (www.youtube.com/watch?v=JcJCh-8FDS4). Confesso que o azul do mar da gruta é igual ao azul do entorno da ilha. De qualquer modo, é uma experiência que não se pode deixar de viver. Melhor se for no final do dia, quando os barqueiros, se bem retribuídos, podem te deixar dar um mergulho no local. Caso contrário, vai entrar, dar uma volta na gruta e sair (e não custa pouco ...).

Ah, já ia me esquecendo: não deixe de tomar um Limoncello, licor de limão típico da região e que pode ser um bom suvenir para os amigos (vendem garrafas com 30ml, que são simpáticas e igualmente boas, como as grandes). Outra boa lembrança local são os perfumes, cujas fragrâncias estão entre as mais antigas do mundo (www.carthusia.it).

Se dormiu em Capri, sua viagem de volta a Roma e quinto dia de permanência na Itália começa depois do café da manhã e, dependendo da hora em que pegar o barco de bolta para a continente, vai chegar em Roma no começo da tarde. Caso tenha preferido retornar a Roma depois de uma rápida visita a Capri, deve ter chegar no seu hotel já noite adentro. Tanto num caso, como no outro, sobretudo porque vai estar de carro (que vai ter ficado em Nápoles, pois ir de carro a Capri é pedir para sofrer), sugiro que permaneça no mesmo hotel da primeira noite. Entretanto, se preferir abolir o carro (vai ficar parado a maior parte do tempo) e fazer os deslocamentos maiores de trem (não é má ideia se conseguir viajar com pouca bagagem, algo 100% recomendável).

Caso esteja sem carro e deseje ficar mais no centro de Roma, sugiro hospedar-se no Hotel Sant’Angelo (www.hotelsa.it) que fica a dois passos da praça Cavour (terminal de vários ônibus que circulam por Roma), a pouca distância do Vaticano e do Castel Sant’Angelo. É bem simples, mas limpo e cômodo para os deslocamentos que terá de fazer nos dias seguintes. Sugiro ficar pelo menos 2 noites ali (ou no Sheraton, hotel da primeira noite em Roma).

Há tanta coisa para ver em Roma que, como dizem alguns amantes da cidade, uma vida apenas não basta. Portanto, vou indicar aqui apenas as coisas principais, que não deve deixar de ver.

Se chegar em Roma no meio do quinto dia e se ficar hospedado no Hotel Sant’Angelo, depois de descarregar as malas, comece sua exploração da cidade caminhando poucos passos até o o Rio Tevere, caminhe em direção ao Castelo Sant’Angelo (originalmente tumba do Imperador Adriano, depois transformado em forte e, atualmente, museu bélico, com armaduras e tudo mais), siga pela via da Conciliazione e prossiga em direção à Basílica de São Pedro que, oficialmente, depois do tratado de Latrão, faz parte do Estado do Vasticano, com selos e passaporte próprios.

Se entrar no Castelo Sant’Angelo pode ser uma bobagem (os anjos ao longo da via representam os anjos que, se não me falha a memória, o Papa Clemente IX teria visto numa certa ocasião), entrar na Basílica de São Pedro é mandatório. É grande, cheia de rococó e tudo mais que você a queira chamar. Talvez por isso mesmo impressione. Note o pé da estátua de bronze de São Pedro como está (os fieis passam a mão para se benzerem e, ao longo dos anos, chegaram a consumir boa parte do bronze). Logo na entrada, depois de passar por uma das portas laterais (a porta central abre somente a cada 100 anos), à sua direita, toda iluminada por flashs de japoneses enlouquecidos, encontrará a primeira grande obra dessa igreja, que é a Pietá di Michelangelo.

As obras de Michelangelo são de ficar com o queixo caído e ali mesmo, no Vaticano, terá a oportunidade de ver duas de suas obras mais famosas (a outra são os afrescos da Capela Sistina, cujo acesso se dá pelo Museu do Vaticano). Note a expressão de dor de Maria, carregando em seu colo seu filho Jesus, apenas deposto da cruz.

Continue caminhando um pouco mais e chegará ao altar principal, protegido por 4 colunas retorcidas, que lembram o templo de Salomão e projetada por Bernini, outro grande nome das artes do renascimento. Se tiver a sorte de pegar a luz do sol descendo pela cúpula, por entre as colunas, vai ver um espetáculo de grande beleza, assim como o vitral que representa o espírito santo, coroando o altar.

Dentro da Basílica há um acesso aos tesouros do Vaticano, com prataria e relicários de todos os tipos. Eu visitei numa das minhas idas à São Pedro e afirmo que não é nada de tão impressionante, a menos que seja apaixonado por arte sacra.

Saindo da Basílica, dependendo da hora, pode dar tempo de fazer uma rápida visita ao Museu do Vaticano. Na verdade, precisaria de um dia inteiro para visitar o museu como se deve, mas como o objetivo aqui é visitar a Capela Sistina e mais alguma coisa (a biblioteca, por exemplo, é bem interessante), um fim de tarde pode ser suficiente, desde que a fila para comprar o ingresso não seja grande demais. O acesso se dá, olhando a Basílica de frente, pela rua lateral direta, margeando o muro do edifício.

Ah, antes que me esqueça novamente, nunca, jamais, programe um dia de visitas que inclua igrejas vestido com bermudas ou regatas, pois não vai entrar. Nem as pernas e nem os ombros podem ficar à vista. Também desaconselho levar bolsas ou mochilas, pois terão que ser deixadas no guarda-volumes, localizado do lado direito da Basílica.

Já está na hora de descansar um pouco para o último programa do dia, que é um jantar no ultra-famoso Il Vero Alfredo (www.alfredo-roma.it), a poucos passos o Hotel Cavour, do outro lado do Rio e bem em frente ao Mausoléu de Augusto. É turístico e um pouquinho caro, mas é o tipo de coisa que a gente não pode se privar, depois de uma viagem tão longa. Atualmente administrado pelos sobrinhos do fundador, Alfredo e Ines, o local está em atividade desde 1950 e faz parte das lojas históricas de excelência de Roma (www.negozistoricieccellenza.it). Dica: reserve!

Se a viagem estiver correndo dentro do previsto, você deverá dedicar seu sexto dia de visita para ver tudo o que for possível da cidade eterna. Saindo do hotel pegue a Ponte Cavour, siga em direção ao Mausoléu de Augusto e dali, pela Via dei Condotti (que é a Oscar Freire de Roma) vá direto para Piazza di Spagna (tem esse nome porque a Embaixada da Espanha ficava num dos edifícios da praça), onde poderá observar a bela Trinitá dei Monti (subindo a escadaria, em frente à fonte do Barco, de Berinini), diante da qual artistas plásticos desconhecidos expõem suas obras a preços muitas vezes convenientes.

Da Trinità dei Monti, desça até a Fontana di Trevi (não se esqueça de jogar uma moedinha de costas para a Fonte, caso deseje voltar a Roma), bela por si só e eternizada nas cenas de La Dolce Vita, com Marcello Mastroiani e Anita Ekberg. Não viu, veja antes de viajar. Também vale como estudo de viagem o filme Elsa Y Fred, um dos meus preferidos de todos os tempos.

Da Fontana di Trevi, siga até o Pantheon, um dos poucos edifícios romanos totalmente intactos, ainda que transformado (ou por causa disso), em templo católico. Do Pantheon, templo não dedicado a uma divindade específica, siga para a Piazza Navona, uma das mais lindas de Roma.

Na Navona, há três edifícios de interesse: a Embaixada Brasileira, considerado um dos palácios mais belos de Roma, a Fonte dos Rios (Fontana dei Fiumi) e a igreja de Sant’Agnese. A Fonte dos Rios, que homenageia os 4 maiores rios até então conhecidos (Danúbio, Ganges, Nilo e Rio da Prata), foi projetada e construída por Berini, já citado anteriormente e arqui-concorrente (para não dizer inimigo) de Borromini, outro grande escultor-arquiteto da época, que projetou e construiu a igreja de Sant’Angnese, localizada bem em frente à fonte. Repare no hindu que representa o Rio Ganges. Ele protege o rosto como se temesse que a igreja fosse desabar em cima dele. Trata-se de uma provocação de Bernini ao seu concorrente Borromini, que não agradou nem um pouco este último.

Estando na Piazza Navona, pare um pouco para relaxar, tomar algo (um gelato, por exemplo, ou uma bebida gelada). De lá, depois de descansar um pouco os pés, pegue a Vittorio Emanuele, depois a Via dei Fori Imperiali e retorne na região do Coliseu, onde também está localizada a Igreja de San Pietro in Vincoli. O edifício tem esse nome pois dizem que a Rainha Helena, mãe de Constantino, imperador romano que tornou o catolicismo religião oficial do Império, ao colocar lado a lado as correntes (vincoli) que um dia aprisionaram São Pedro, elas se uniram diante de seus olhos. Nessa mesma igreja, jaz outra obra fabulosa de Michelangelo.
Trata-se do Moises, que teria sido agredida no joelho pelo seu próprio autor que, momentaneamente enlouquecido diante de sua obra de absoluta perfeição, tê-la-ia golpeado e pedido que falasse.

Se ainda tiver fôlego e tempo, sugiro visitar as demais três Basílicas de Roma: Santa Maria Maggiore (barroca dos pés à cabeça!), San Giovanni in Laterano e San Paolo Fuor Le Mure.

Se tiver que escolher uma entre as três, escolheria a San Giovanni in Laterano, que se encontra nas proximidades da estação central de trens. O edifício é bonito, mas o que interessa mais é o anexo, dentro do qual está a escadaria do Palácio de Pilatos, trazida de Jerusalém para Roma pela Rainha Helena. Dizem que Jesus subiu essa escadaria e que as manchas de sangue marcadas em seus degraus são do Rei dos Reis.

Bem, depois de um jantar, provavelmente na Praça de Santa Maria Trastevere, numa boa pizzaria local e uma noite de sono, sua permanência em Roma terá terminado, a menos que deseje fazer uma viagem menos corrida e empregar mais algum tempo na cidade e região, para ver algo com maior vagar, ou ver mais algo de seu específico interesse.

A viagem agora prossegue até Assis. A viagem não é muito longo. São cerca de 200Km ou duas horas de carro. A cidade não tem a riqueza arquitetônica de Roma e nem o azul do mar do Golfo de Nápoles. É interessante, porém, por ser cidade natal de Francisco, jovem da rica burguesia local e que, segundo a história, em torno do ano de 1200, depois de ouvir uma mensagem falada pelo crucifixo da Igreja de São Damiano, chamando-o para um trabalho maior que os da vida mundana, inclusas as batalhas cruzadas, largou tudo para cuidar dos pobres. Comprou briga feia com seu pai, um rico comerciante de tecidos, mas ficou para a história como um dos maiores santos da Igreja Católica.

Tudo em Assis gira em torno de São Francisco e também de Santa Clara, jovem de incrível beleza e que resolveu largar tudo e seguir os ensinamentos de Francisco e, mais adiante, criou sua própria ordem, a das clarissas.

Um dos pontos altos da cidade é a Basílica de São Francisco, toda decorada com afrescos de Giotto, cujas obras, para se ter uma ideia, inspiraram de Leonardo a Michelangelo. Infelizmente, boa parte de seus afrescos foram destruídos num grande terremoto que abalou a cidade há alguns anos atrás. Muito, porém, foi restaurado por hábeis mãos, que pacientemente juntaram caco por caco, como num quebra-cabeças.

Também são imperdíveis a Igreja de Santa Clara, a casa de Francisco e, por último, a Porciuncula (http://it.wikipedia.org/wiki/Porziuncola), uma capela em volta da qual foi construída uma imensa Catedral. Fica na parte baixa da cidade, é da época de Francisco e local onde teria morrido. Simplesmente fantástica.

Vale á pena passar uma noite em Assis que, com as luzes das lojas apagadas e com uma iluminação muito suave, faz o visitante retornar no tempo. Uma boa opção de hospedagem (na verdade, a melhor) é o Num Assisi Relais & Spa (www.nunassisi.com), cuja noite sai por cerca de 200 euros para o casal. Com certeza, vai ser uma daquelas hospedagens inesquecíveis.

Se tiver fôlego para prosseguir no dia seguinte, junte as malas e vá para San Marino. Todavia, recomendo duas noites no local, para conhecer não só a parte histórica, mas também os campos da Umbria, suas fazendas e restaurantes.

Se aceitou meu conselho de ficar duas noites em Assis e explorar seus arredores, estará entrando hoje no seu nono dia de permanência na Itália que, como disse anteriormente, deverá ser usado para a viagem à San Marino. São mais cerca de 200 Km de estrada, que valem à pena investir.

San Marino, que oficialmente se chama Sereníssima República de San Marino, com 61Km² é dos menores estados independentes do mundo. É também a mais antiga república do mundo, fundada no ano de 301. Sua constituição promulgada em 1600, também é a mais antiga do mundo. Sua principal atração, na minha opinião, é a Roca Guaita, uma fortaleza cujas fundações dão do décimo século. Vale à pena uma noite ali e um dos melhores hotéis da região é o Grand Hotel Primavera (www.grandhotelprimavera.com), situado a apenas 3,5Km do centro histórico.

Já descansou? Agora faça as malas novamente e siga mais 200Km de estrada até Florença, onde deve ficar 3 noites para conhecer a cidade e o entorno.

A oferta de hospedagem é bem ampla, mas indico o Bernini Palace Hotel (http://berninipalace.hotelinfirenze.com), que fica bem em frente ao Palazzo Vecchio, a dois passos do Piazza della Signoria, da Ponte Vecchio, da Accademia, da Galleria degli Uffizi e do Duomo, que são as principais atrações da cidade.

Só o edifício onde está localizado o Bernini já é uma viagem. O edifício é uma antiga residência fidalga, hoje transformada num hotel 4 estrelas, com conforto de 5 e preços razoáveis. Se achar caro demais, vá para o Baglioni, tradicional hotel de Florença, um pouco mais em conta (se ficar nos apartamentos piores, é claro) e em cujo terraço fica um delicioso restaurante com vista para toda a cidade.

Aproveite que vai ficar 3 noites em Florença e tire a tarde do primeiro dia, depois de fazer o check-in no hotel, para caminhar pela cidade. Vai conseguir um mapa da cidade na recepção do hotel (isso também vale para as outras cidades). Passe pela Ponte Vecchio (http://en.wikipedia.org/wiki/Ponte_Vecchio), que desde épocas medievais reúne alguns dos principais joalheiros da cidade, visite o Duomo (http://en.wikipedia.org/wiki/Florence_Cathedral), edifício de grande beleza, concluído em torno do ano de 1436 e em cujo batistério são realizados espetáculos de musica clássica todas as noites. Aliás, esse é outro programa imperdível.

Nos dias seguintes, no horário que você achar mais conveniente (melhor sempre logo na abertura, para evitar filas, ou em qualquer horário, desde que compre o ingresso com antecedência), visite a Galleria degli Uffizi e a Accademia (www.florence-museum.com/?gclid=CP-cx6j8u7QCFQGvnQodg1YATg). Se no primeiro você vai ter a chande de ver uma Madonna de Michelangelo e a Anunciação de Leonardo Da Vinci (além de outras obras do gênio multifacetado), na segunda você verá o original do David, de Michelangelo, outra obra prima do mestre florentino.

Ao longo da permanência em Florença, tire um meio dia para visitar Pisa, que se encontra a poucos quilômetros de distância e onde fica a célebre torre inclinada, de onde Galileu fazia seus experimentos. A Igreja e o batistério, que fazem parte do conjunto arquitetônico, também são dignos de apreciação (www.opapisa.it/it/la-piazza-dei-miracoli/torre-pendente/larchitettura.html).

Outro passeio que vale à pena na região é a cidade de Vinci (www.toscanaviva.com/Vinci), onde ainda pode ser visitada a casa onde nasceu Leonardo. O Caminho até lá passa por campos de oliveira de grande beleza e inspiração.

Antes de prosseguir para o Vêneto, região italiana cuja capital é Veneza, te deixo dois dias livre e, portanto, os dias décimo terceiro e décimo quarto da viagem para incluir algo no programa, como uma rápida passagem a Lucca, a San Geminiano e Volterra, todas na Toscana.

Seu décimo quinto dia, segundo minha sugestão, deve ser usado para chegar a Verona (230Km), com rápida passagem por Modena (150Km), onde poderá visitar o Museu da Ferrari, com direito a umas voltinhas numa das versões do possante vermelho na pista de Fiorano (http://museo.ferrari.com/it).

Como já está chegando ao final da viagem, sugiro dormir apenas uma noite em Verona e um hotel bastante agradável e de preço acessível é o Best Western Hotel Firenze (http://book.bestwestern.it/EN/hotel_in_Verona_98068.aspx), que fica no Corso de Porta Nuova, a poucos metros do centro antigo de Verona.

E o que fazer em Verona, a cidade dos amantes, terra de Romeu e Julieta? Bem, na verdade, Romeu e Julieta viveram em Verona somente na versão da história escrita por Shakespeare, pois as verdadeiras famílias Montecchio e Capuleto viviam não muito longe dali, na cidade de Montecchio Maggiore.

É em Verona, porém, que a história foi eternizada e, caminhando pelo Corso di Porta Nuova, logo depois de passar pelo arco que dá na Piazza Bra, a praça onde fica a arena romana, vire e encontrará no lado direito do arco, numa placa gravada em mármore, um trecho do romance do célebre autor inglês, que mais ou menos diz o seguinte: Não existe vida fora dos muros de Verona, mas purgatório, tortura e o próprio inferno.

De fato, ao ingressar na Piazza Bra, o visitante é levado para um outro mundo e o primeiro impacto é a amplidão da praça coroada pela grande arena. Trata-se de uma das arenas de época romana mais bem conservadas do mundo e palco de grandes espetáculos de música lírica no verão europeu. Aliás, é impossível pensar na encenação da Aida, de Verdi, que não seja na Arena de Verona. Essa sim, ao contrário do Coliseu, vale à pena ter seu interior visitado, pois não sofreu as depredações que o Coliseu sofreu.

Abro aqui um parênteses para falar do Coliseu novamente: tem esse nome, pois no lugar em que foi construído, após o grande incêndio que tomou conta de Roma no início do era cristã, Nero fez erguer uma estátua em homenagem a ele mesmo, que ficou para a história como Colosso de Nero. Claro que, depois que o imperador morreu, foi tudo para o chão, assim como a sua Domus Aurea, cujas fundações é possível visitar.

Tornando a Verona, após visitar a Arena, pegue a Via Mazzini, que é a Oscar Freire da cidade, e siga-a até o final. Vai desembocar numa rua, com a possibilidade de virar à esquerda, ou à direita. Se for à direita, vai acabar passando em frente da Casa di Giulietta. É coisa para turista ver e apaixonados deixarem suas mensagens gravadas nos muros do edifício, de época medieval. No pátio interno, verá uma estátua de bronze da Julieta e se notar bem, verá que um dos seios é mais brilhante do que o outro. Isso porque dizem que dá sorte passar a mão no peito da Julieta!

Se quiser entrar na casa, pode valer à pena para ver como é uma residência medieval. Vou avisando, porém, que não tem nada dentro. Simplesmente subirá até o balcão de onde Julieta declarou seu amor a Romeu e vice-versa (Ah, Romeu, meu Romeu, diga que me amas e não serei mais Capuleto e nem tu Montecchio, mas apenas Julieta e tu Romeu, meu Romeu).

Bem, voltando para o lado esquerdo da rua da Casa di Giulietta, se seguir até o final, chegará à Piazza delle Erbe. Trata-se do local mais antigo de Verona e onde se localizava o Fórum Romano. Com o tempo os edifícios romanos deram lugar àqueles medievais. O local abriga uma feira livre de ervas, artesanatos e suvenires e também um fonte, construída em 1300 pelo último descendente da família que dominava a cidade e que dá nome a vários edifícios locais, como o castelo e anexa ponte. A estátua tem o corpo de uma estátua romana, que provavelmente decorava os edifícios romanos locais, mas a cabeça e os braços, então faltantes, são de 1300. De certa forma, simboliza a cidade, que também possui bases romanas e seu esplendor construído na época medieval.

Da Piazza delle Erbe, siga em direção ao rio (chama-se Adige) que, sem muito esforço, encontrará a Ponte Romana (pode imaginar uma ponte que ainda é usada depois de 2 mil anos?) e, do outro lado, o anfiteatro romano.

O anfiteatro ainda é usado para espetáculos durante o verão, particularmente de balé. Possui acústica perfeita e uma vista espetacular da cidade. Aliás, perder um pouco de tempo observando as águas do Adige passarem por debaixo da Ponte Pietra (ponte romana) é algo que fica marcado na memória.

Depois desse passeio, volte para o hotel, descanse um pouco e saia para jantar. Eu recomendo a Trattoria Tre Marchetti (www.tremarchetti.it), que fica a dois passos da arena. O local é agradável e, durante a temporada de musica lírica, recebe personagens de grande fama, como José Carrera ou Placido Domingos. Lembre-se de reservar antes para não encontrar o salão lotado.

Depois de um belo jantar, regado a um bom vinho, nada melhor que uma caminhada para fazer digestão. Nesse caso, volte à Piazza Bra e, antes de cruzar o arco em direção ao hotel, vire na rua à direita. Siga essa rua até o final e cairá em frente ao Castel Vecchio, antiga residência scaligera. Atravesse a rua em direção ao Castelo caminhe um pouco à esquerda e cruze a ponte. A luz alaranjada e o silêncio da noite (pode ficar sossegado, que o risco de ser assaltado é mínimo!) farão você retornar no tempo.

Se o programa em Verona rendeu bem, você deverá estar deixando a cidade pouco antes da hora do almoço, depois de um régio café. Caso negativo, estenda sua permanência um pouquinho mais para ver tudo o que foi indicado nos parágrafos anteriores. Não vai ser por causa de algumas horas que você vai deixar de ver edifícios e paisagens que dificilmente voltará para visitar.

Deixando Verona, siga em direção a Veneza, mas com tempo suficiente para uma paradinha técnica em Vicenza (www.vicenza.com/temi/conosci_vicenza/monumenti/index.php). Vai passar por ela de qualquer modo, pois a estrada que liga Verona a Venza (A4) passa por Vicenza, cidade que deve muitos de seus edifícios a um gênio da arquitetura dos anos 1500, Andrea Palladio. Entre suas obras mais significativas, coloco a Rotonda, casa com as quatro fachadas iguais e que serviu de inspiração para o projeto da Casa Branca, e o Teatro Olímpico, localizado no centro da cidade e cuja visão fica eternamente marcada na memória.

Se tudo estiver dentro do planejado, você estará chegando a Veneza na noite do 16° dia de permanência na Itália e não terá tempo de fazer nada além de dar entrada no hotel, comer algo e dormir um pouco.

Eu sugiro ficar hospedado no Hotel Firenze (www.hotel-firenze.com), que fica realmente a dois passos da Piazza San Marco e tem um preço bem em conta. É simplesinho, mas suficiente. Claro que, se preferir algo faustoso, o Danieli (www.danielihotelvenice.com), onde ficam hospedados de Bill Clinton a Brad Pitt, é um sério candidato. Nesse caso, prepare o bolso, pois vai gastar um bocado. Em qualquer caso, se estiver de carro, vai ter que deixá-lo num estacionamento, pois em Veneza, para se locomover deve usar os pés, ou um barco (ou gôndola). Prepare-se para ficar na cidade pelo menos 2 noites.

Use essa primeira noite em Veneza para, como nas outras cidades, se perder (literalmente), por suas ruelas. Pare em alguma osteria, ou trattoria que te agradar e como algo. Existem menus turísticos, com entrada, prato principal, segundo prato e sobremesa com valores bem em conta e nem por isso deixam de ser bons.

Depois do jantar, noite adentro, caminhe pela praça San Marco e deixe-se envolver pela atmosfera do local que, a certa hora fica encoberta pela bruma que vem do mar, iluminada por lampiões de longa data e com o silêncio rompido apenas por seus passos sobre as pedras do calçamento. EU considero essa praça, sobretudo à noite, um dos lugares mais bonitos do mundo.

O décimo sétimo dia vai ser intenso e começa por uma visita à Igreja de São Marcos (www.basilicasanmarco.it). Note os cavalos que estão colocados no alto da porta principal. São réplicas de originais que pode ver dentro, na sala do tesouro. Os originais foram trazidos de Istambul, onde decoravam o hipódromo. Os responsáveis por isso foram os cruzados que vendo as estátuas de bronze brilhando, tomaram-nas como sendo de ouro e as levaram como espólio de guerra.

A igreja é belíssima, adornada com o que há de melhor na arte bizantina. Note a riqueza dos mosaicos e, se tiver afim de visitar a sala do tesouro, fique com a boca aberta ao se deparar com a Pala D’Oro, uma espetacular obra sacra, colocada imediatamente atrás do altar da igreja e feita em ouro, prata e pedras preciosas. Claro que para ver isso, tem que pagar (o ingresso à igreja é gratuito, naturalmente).

Saindo da igreja, o próximo programa é uma visita ao Palácio Ducal, ou Palácio dos Doges (http://palazzoducale.visitmuve.it), antigos administradores da República Marítima de Veneza. O ingresso, que também dá direito a visitar o Palácio Real, que se encontra do outro lado da praça, dá acesso a um conjunto de salas ricamente adornadas com pinturas do mestre veneziano Tintoretto, mas também à famosa Ponte dos Suspiros, que leva esse nome, pois é dava aos condenados a chance de ver pela última vez a luz do sol, já que imediatamente depois vêm as masmorras, de onde o cidadão saía somente morto.

Um belo material de estudos para conhecer Veneza é a mini série encenada por Ken Marshall e que fala sobre a vida de Marco Polo.

Outro programa imperdível em Veneza é um passeio pelo Canal Grande, o que pode ser feito num dos vaporeto, espécie de balsa-ônibus local. Nesse canal, encontram-se algumas das mais belas residências do cidade, hoje, praticamente todas transformadas em museus ou locais da pública administração (alguns ainda permanecem nas mãos de famílias nobres). Pare na Ponte Rialto e caminhe por ela. Vai notar alguma semelhança com a Ponte Vecchio, de Florença.

Para o programa da noite, aqui vai uma opção que deve agradar: concerto na Scuola Grande San Rocco (www.scuolagrandesanrocco.it), outro edifício decorado com obras do grande Tintoretto, seguido de jantar no Restaurante La Fenice (www.ristorantelafenice.it), localizado ao lado da Opera La Fenice (se preferir, pode assistir a um espetáculo na Opera).

Conheci esses locais por acaso. Enquanto caminhava com dois amigos, ouvi a música vinda de um edifício renascentista e resolvi entrar. Fui brindado com um inesquecível espetáculo, num ambiente decorado por telas do mestre veneziano, ao som de músicas de Vivaldi, outro talento local, tocadas por um quarteto que até cravo original da época tinha. Como o Restaurante fica ao lado, acabei entrando com esses amigos e terminei a noite com outra bela surpresa.

Outra boa opção de restaurante, mas com preços muito, mas muito mais altos é o Harry’s Bar (www.cipriani.com), que fica nos arredores da San Marco. Vale á pena a experiência ...

No décimo oitavo dia, já no final da viagem, pegue o carro e suba a montanha, sempre pela A4, até Misurina (http://en.wikipedia.org/wiki/Lake_Misurina). Com o lago congelado ou não, o local é de ficar com o queixo caído. Passe a noite ali e empregue o dia caminhando pelas dolomitas. Para se hospedar, a melhor opção, pela localização na beira do lago, é o Grand Hotel Misurina (www.grandhotelmisurina.it).

No seu décimo nono dia, não tem jeito, tem que pegar o carro e seguir direto para Milão. São quase cinco horas de estrada, que podem ser interrompidas por uma parada estratégica em Sirmione (www.sirmione.com/english.htm), cidade à beira do Lago de Garda e que Maria Callas escolheu para viver seus últimos dias. Para por lá, como algo, estique as pernas e prossiga para chegar em Milão antes da noite chegar.

E onde ficar em Milão? Bem, eu recomendo o Hotel Palazzo Stelline (www.hotelpalazzostelline.it/it/index.htm), localizado num antigo orfanato para meninas, carinhosamente chamadas de estrelinhas. O preço é bom e a localização é boa caso deseje se desfazer do carro e de lá seguir de trem (Estação Milano Cadorna) até o aeroporto de Malpensa, de onde provavelmente pegará o vôo de retorno para o Brasil (compre o bilhete com antecedência pelo site www.malpensaexpress.it). Além do mais, fica bem em frente à Igreja de Santa Maria delle Grazie, em cujo refeitório fica a famosa Última Ceia, de Leonardo a Vinci. Para visitá-la, independentemente de estar perto, ou não, reserve os ingressos com antecedência, pois só um pequeno número de pessoas pode acessar o local a cada dia (www.tickitaly.com/galleries/davinci-last-supper.php).

Além da Última Ceia, pintada por Leonardo na sua longa permanência em Milão, sob a proteção do Duque Ludovico Sforza, são obrigatórias visitas ao Duomo, ao Castello Sforza (ou Sforzesco) e à Galleria Vittorio Emanuele, aquele que disse ser muito semelhante à de Nápoles.

O Duomo (www.duomomilano.it), ou catedral, é um dos exemplos máximos da arquitetura gótica, comparável somente à Notre Dame de Paris, ou a Catedral de Chatres. Começou a ser construído em torno do ano de 1300 e, aos longo dos séculos, passou por diversas modificações até chegar à estrutura atual. Se desejar, pode subir até seu telhado, de onde tem uma vista privilegiada da Madonnina (Nossa Senhora de Milão) e de toda a cidade.

Quanto as Castello Sforzesco (www.milanocastello.it/ita/home.html), tão antigo quanto o Duomo, já serviu de morada para as diversas famílias que dominaram Milão e até mesmo como caserna, durante o período napoleônico. Durante a segunda guerra foi seriamente abalado e as autoridades pensaram seriamente em demoli-lo completamente. Entretanto, optaram pela restauração que, entretanto, eliminou algumas características de uma fortaleza, trazendo mais praticidade e aproximando-o mais de um castelo de contos de fada.

Se não errei nas contas, a essa altura você já está de malas prontas para retornar ao Brasil. Entretanto, caso ainda tenha mais uma noite em Milão, vá jantar no meu restaurante preferido, que é o Bice (www.bicemilano.it). Vale sempre a mesma dica de qualquer outro restaurante, ou seja, que deve reservar com antecedência.

Outra opção de local, mas muito mais caro, é o Boeucc (www.boeucc.it/boeucc), que figura entre os restaurantes mais antigos do mundo ainda em atividade.

Num caso ou n’outro, aproveite, depois do jantar, para caminhar pela Monte Napoleone, Santo Spirito e Sant’Andrea, cujas vitrines são inspiradoras, mas totalmente seguras àquela hora para quem não queira gastar com produtos de algumas das principais grifes italianas.

Chegamos ao ponto final desta história. Espero que meu roteiro te ajude a fazer uma boa viagem!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ESPÍRITO DE NATAL


Cresci ouvindo dizer que Papai Noel não existia, que tinha sido inventado por algum mago do marketing, contratado para fazer campanha da Coca-Cola, em cima da história de um velhinho chamado Nicolau, que nunca viveu no Polo Norte, jamais vestiu roupa vermelha e nem mesmo saia por aí num trenó voador encabeçado por uma rena de nariz vermelho chamada Rudolf. Nicolau, na verdade, nasceu e viveu na Ásia Menor, em torno do ano 300, membro de uma família muito rica e com imenso prazer em se doar e em doar o que tinha para quem mais precisava.

Pois é, o bom velhinho, que traz presentes na noite do dia 24 de dezembro para as crianças que se comportam durante todo o ano, bem, esse – tapem os ouvidos os mais crédulos – sinto informar, mas não existe mesmo. E se não existe lá no hemisfério norte, com frio suficiente para usar aquelas roupas que causariam revolta aos mais ferrenhos defensores da causa dos animais (alguém já reparou que a roupa do Papai Noel da Coca-Cola tem acabamento feito com pele arminho?), imaginem aqui nos trópicos, com calor de 36°C à sombra. Aliás, arrisca desidratação e perda dos sentidos quem se atrever em usar por aqui esses modelos que não passam de verdadeiras saunas ambulantes.

Mas se não existe esse tipo de Papai Noel midiático, cuja imagem a gente adora explorar nesse período do ano (eu mesmo, se tivesse que pagar direitos de imagem, estaria com uma dívida do tamanho do mundo, já que tenho pelo menos uns 20, de diversos tamanhos e formatos, que costumam decorar a casa quando resolvo encarar essa tarefa), existem outros seres, de carne e osso, tão bonzinhos ou mais e que fazem a gente pensar se vale à pena dedicar tanto espaço de nossas mentes com seres imaginários, se os verdadeiros bons velhinhos e jovenzinhos, homens e mulheres, ricos ou pobres, invariavelmente no anonimato, fazem um fantástico trabalho baseado exclusivamente na solidariedade.
Isso mesmo, solidariedade é o que move essas pessoas, pertencentes às mais diversas classes sociais e que fazem o que fazem não para ganhar reconhecimento público das suas obras, mas simplesmente por achar correto e necessário fazer o bem, dentro daquela máxima de que cortesia gera cortesia.

Trata-se de gente que não espera pelo Governo para que as coisas que devem ser feitas sejam feitas, que não espera pelos outros para por a mão na massa, que não aguarda uma pausa nos compromissos para fazer o bem. Fazem tudo porque gostam, porque não conseguem estar em paz vendo alguém ao lado passando mal e, isso tudo – morra de inveja Papai Noel midiático – 365 dias por ano e não apenas na véspera do Natal.

Eu mesmo conheço inúmeras pessoas como essas e, recentemente, há cerca de duas semanas, tive o prazer de conhecer mais duas. Gente simples, mas nem por isso menos importante, com histórias de vida e obras sociais construídas no anonimato e que, aos poucos, foram ganhando a ajuda de várias pessoas, igualmente desinteressadas da fama, permitindo-lhes ampliar cada vez mais suas correntes de boas ações.

Uma delas, chamada Jovaneide Freire, lá pelas tantas, já há muito realizando ações sociais, recebeu uma doação anônima de R$ 100 mil e, com esse dinheiro, resolveu abrir uma casa de apoio para crianças em tratamento contra o câncer, ou transplantadas, vindas de diversas localidades do país e onde recebem abrigo, alimentação, medicamentos (quando não fornecidos pela rede pública de saúde) e transporte aos hospitais nos quais realizam seus tratamentos. Ficam lá, na companhia de um parente, pelo tempo que for necessário, um total de 40 crianças.

As instalações são simples, mas dignas e sem as quais essas crianças não poderiam fazer o tratamento de que necessitam. Além disso, na convivência com outras crianças que passam por problemas semelhantes, de algum modo sentem-se mais aliviadas.
A casa se chama Centro de Apoio à Criança Carente com Câncer “Candida Bermejo Camargo” (www.centrocbc.org.br) e fica localizada nas imediações do Cemitério da Paz, não muito longe do Portal do Morumbi.

Caminhei por lá, guiado por uma das estagiárias, que me mostrou as instalações, apresentou-me a algumas crianças (uma delas, judiação, com câncer nos olhos) e me fez ver que é possível ser feliz mesmo em dificuldade, pois não me pareceu ver naqueles rostinhos nenhum sinal de ressentimento, ou revolta, contra a situação pela qual passavam crianças, desde bebês até adolescentes e, em alguns casos, também adultos (a casa é para atender crianças, mas como negar ajudar a um adulto que também precisa?).

Fiquei feliz por contribuir, junto com um monte de amigos do bem, ainda que minimamente, com sacolinhas de Natal para quase todas as crianças ali hospedadas e que mal podiam esperar a hora de abrir seus presentes, compostos por uma troca completa de roupa, um calçado e um brinquedo. Tudo comprado com carinho, como se fosse para alguém da família, ainda que para pessoinhas cujos rostos a maioria desses colaboradores poderá ver somente em fotografias.

Bem, a segunda Mulher Maravilha desta véspera de Natal e que coloca Papai Noel no chinelo, chama-se Iraci Gomes, ou simplesmente Ira. Sobre sua vida privada, na verdade, fiquei sabendo muito pouco. Apenas que é casada e que possui uma filha e três (ou serão quatro?) netos para lá de ativos, todos habitantes de uma simpática casa situada em Carapicuiba.

Eu a conheci por intermédio de uma instituição de Osasco que ajudo há diversos anos, também doando sacolinhas de Natal, montadas com a colaboração de amigos e colegas de trabalho. Pois bem, quando entrei em contato com essa instituição este ano, já haviam providenciado todas as sacolinhas de que necessitavam, de modo que me encaminharam para a Ira, que faz um belíssimo trabalho assistencial junto à comunidade da Boracéia, em Carapicuiba, e que também prepara sacolinhas de Natal para as crianças que consegue cadastrar.

O cadastramento é muito simples. Com base na quantidade de sacolas que se consegue recolher no ano anterior, Ira marca um dia para o pessoal da comunidade – que procura ajudar ao longo do ano com doações que recebe de amigos e também de desconhecidos – ir até sua casa retirar as senhas (seria ótimo ajudar a todas as crianças, mas infelizmente, é gente demais e donativos de menos, razão da instituição das senhas). Conta ela que se marca às 08:00, já de madrugada tem gente na porta da casa, para não perder a oportunidade.

Para os que não conseguem pegar a senha, fica a promessa da distribuição de uma nova quantidade, caso seja possível sensibilizar mais doadores. E foi o que aconteceu neste ano por duas vezes, ou seja, uma primeira distribuição de 150 senhas, seguida por outras 80 e, por fim, mais 50 senhas, num total de 280. Parece bastante e é mesmo, mas esse número consegue contemplar cerca de 20% das crianças da Boracéia.

No dia que chamei a Ira para pegar as sacolinhas, eu a acabei acompanhando até sua casa, pois seu carro não era suficientemente grande para carregar tudo numa só viagem. Chegando lá, ela me perguntou se gostaria de visitar a comunidade onde vivem as crianças que seriam presenteadas, convite que aceitei prontamente.

Confesso que não fiquei chocado com o que vi, pois já havia visto coisas do gênero. Entretanto, não pude deixar de ficar condoído pela forma como aquelas pessoas vivem. O local margeia um córrego que mais parece um esgoto aberto, com um cheiro ácido que queima minhas narinas só de lembrar.

Havia lixo transbordando das caçambas colocadas nas entradas da comunidade, que a prefeitura coleta muito raramente, pois, segundo ela própria, seria necessário um caminhão de lixo somente para atender a Boracéia e, como possui apenas três, fazia a coleta a cada 2 ou 3 semanas, ou quando dava.

Que tristeza ver as crianças descalças, caminhando por línguas escuras escorrendo sobre o chão de terra batida. Não obstante, pareciam felizes e talvez contribuísse para esse sentimento o total estado de alienação estampado nas caras dos adultos, conversando na porta de suas “casas”, como se estivessem numa cidade do interior do nordeste, de onde a maior parte deles provinha.

Mas se a alegria das crianças parecia não se abalar pela situação em que viviam, o mesmo não aconteceu no dia em que receberam as sacolinhas de Natal. Enquanto aqueciam seus motores, comendo cachorro-quente e algodão doce, na festinha preparada por Ira e seus ajudantes (muito mais prestativos do que os duendes do Papai Noel), olhavam curiosos para as sacolinhas (com meus amigos, contribuí com 129!), tentando adivinhar qual seria a sua. E, quando receberam seus presentes, não puderam conter um sorriso espontâneo e um apreço indescritível pelo que estavam ganhando.
  
Pois é, Papai Noel de mentirinha, você até que tenta cumprir seu dever e fazer as pessoas felizes, mas seus domínios se restringem a uma vitrine bem montada, a um comercial de televisão, ou a um filme encenado por alguma estrela de Hollywood que tenta resumir o espírito de Natal a uma troca de presentes.

O Natal, entretanto, é bem mais que troca de presentes. É a personificação da solidariedade que algumas pessoas conseguem externar todos os dias do ano, silenciosamente, valentemente, só porque o coração manda.

domingo, 25 de novembro de 2012

CRÔNICA DO INGRESSANTE NAS ESCOLAS DE APRENDIZES DO EVANGELHO


Cheguei aqui com a mente cheia de dúvidas, o coração apertado por angústias e as costas encurvadas pelo peso avassalador de uma vida, às vezes alegre, não vou negar, mas frequentemente extremamente dura.

Se Deus é pai de todos, como dizem, porque para alguns dava tanto e comigo parecia nem se importar? Será que não era merecedor de sua atenção? Porque não me ouvia? Falava eu muito baixo? Se era esse o problema, podia perfeitamente gritar!

Talvez estivesse pedindo demais. Mas desde quando querer saúde era demais? Desde quando querer um pouco de conforto era sonhar alto? Afinal, se meu irmão pode viver no luxo e andar com carro do ano, porque eu não era dado o mesmo direito? Será que querer o bem dos meus filhos era muito? E um trabalho decente, longe daquele chefe horrível, era demais? Ah, meu Deus, sair da solidão que me consome era, por acaso, um pedido muito especial?

E apesar de minhas dúvidas, sempre estive em Sua busca. Bati em diversas portas, frequentei outras religiões, li vários textos e conversei com inúmeras pessoas, sem nunca conseguir encontrá-lo. Cheguei a duvidar que realmente existisse.

Até que um dia, trazido por um parente, um amigo, ou pela curiosidade, entrei nesta casa. Haviam dito que aqui era possível falar com os espíritos e como basta ser espírito para conhecer Deus – pelo menos era nisso que acreditava – algum deles conseguiria me levar a Ele, que tinha me dar satisfações. Aqui ele ia ter que me ouvir!

Então tomei passes, ouvi palestras e, num belo dia, fui convidado a participar de uma escola, a Escola dos Aprendizes do Evangelho. Pensei no meu intimo: mas eu não tenho tempo para frequentar uma escola ... Trabalho tanto, tenho a família que me espera. Não é a família que eu queria, é verdade, mas como não tenho outra e ela está lá, dependente de mim, ou eu dela, não queria deixá-la sem a minha presença. Afinal, sem eu aquela casa não anda! Por outro lado, se para falar com Deus, colocar as coisas a limpo, é esse o caminho, então vou fazer o esforço. Depois, se não gostar, se começarem a falar alguma baboseira, eu saio, pois não sou de levar desaforo para casa.

A escola começou e, no inicio, achava tudo meio estranho. Eu, no meio daquelas pessoas que não tinham nada a ver comigo, de mundos tão diferentes, para mais, ou para menos. Contudo, sentia-me bem e, aos poucos, percebia que os problemas de cada um assemelhavam-se muito aos meus próprios. Mudavam os rostos, mas as dúvidas, as incertezas eram as mesmas. Além disso, os orientadores e todo o pessoal da casa me abraçavam com tanto carinho que acabei me esquecendo que estava lá para cobrar Deus por seus erros para comigo. Talvez ele também não estivesse por lá, mas isso nem tinha mais importância, pois eu já nem sentia tanto peso sobre os ombros. Quero dizer, às vezes tinha (e ainda tenho) minhas crises existenciais, mas tudo parecia passar tão mais rápido. Mesmo porque, problemas, eu já me dava conta, todos os tinham.

Passei a olhar mais para dentro de mim, perceber meus erros e, num determinado momento, dei-me conta que tinha muitos defeitos. Nossa, como podia ter sido daquele jeito por tanto tempo! Tinha que mudar coisa demais na minha vida, mas por onde começar a tal reforma íntima? Só os defeitos catalogados eram 25 itens e certamente havia mais algum que haviam se esquecido de listar.

Ok, decidi começar pelo orgulho! Como ele é a causa de todos os demais defeitos, acabando com ele, ficava perfeito logo e terminava com esse negócio de ficar sofrendo, ainda que os sofrimentos não parecessem mais tão grandes.

Mas ao começar minha batalha, percebi que não era tão fácil me ver livre de mim, quero dizer, daquele orgulhoso ser que vivia dentro de mim e com o qual eu havia cortado relações – embora, de vez em quando, voltássemos a dialogar.

Aconselhado, deixei de lado o orgulho e ataquei em outros frontes, mais fáceis de serem vencidos por esse exercito de um homem só. Então, num dia investia contra a vaidade, em outro contra a incompreensão, em outro ainda contra a agressividade e assim sucessivamente.

Com o tempo, perdi o prazer em participar das rodas informativas sobre a vida alheia, também conhecidas como fofocas, em me lamentar sobre as dificuldades da vida ... Também me tornei um pouco mais paciente em casa, no trabalho e no trânsito (até deixo me ultrapassarem sem reagir).

Arrisco até a dizer que hoje eu sou uma pessoa de fé, uma fé ainda inconstante, mas que me auxilia a lutar contra as adversidades da vida. Posso até cair, mas me ergo em seguida, mais rápido do que antes. Depois, tenho a ajuda dos meus companheiros de jornada, desta casa bendita que me acolheu quando eu mais precisava.

Hoje, eu já sou capaz de olhar para dentro de mim, onde, para meu espanto, encontrei Deus. Eu que o procurei em lugares tão distantes, não podia imaginar que estava tão perto de mim, inspirando-me bons pensamentos para que a reforma íntima, apenas iniciada, nunca pare.

Acho que aprendi a me amar e, com o tempo, sei que vou amar com a mesma força, todas as criaturas de Deus.

sábado, 27 de outubro de 2012

SMARTPHONES E TABLETS: REDEFININDO O CONCEITO DE COMUNICAR-SE COM O MERCADO NO BRASIL


Se a tecnologia da informação é hoje o que a eletricidade foi na era industrial, a internet pode ser comparada a um motor que movimenta o fluxo de informações sem tomar conhecimento de barreiras de tempo ou espaço (CASTELLS, 2003). Ela mudou o modo como pessoas, governos e empresas interagem entre si e acabou mudando a si mesma, passando dos computadores de mesa, aos notebooks, aos netbooks e, atualmente, sendo massivamente acessada através de diminutas telas interativas de celulares inteligentes, os smartphones, e, mais recentemente, também de tablets, introduzidos no mercado pela Apple e rapidamente difundidos por outras empresas do segmento.

É crescente o número de usuários de celulares nos mercados asiáticos que vêem em seus aparelhos a primeira ou única opção de contato com o mundo digital, quer seja para baixar aplicativos, visitar sites, ou comunicar-se com seus pares e com o mercado. Estima-se que, em 2011, 29,1% dos usuários de celulares na Ásia (calculados em 2,14 bilhões) acessem a internet por meio de seus aparelhos, percentual que deve passar para 42,1% em 2015, quando o número de usuários atingir 2,89 bilhões (ELKIN, Jul. 2011).

Já no Reino Unido, segundo dados publicados pela BBC News Technology (MOBILE internet use nearing 50%, 2011) e baseados numa recente pesquisa realizada pelo Office for National Statistics, 45% da população do país acessa a internet por meio de celulares (entre os jovens de 16 a 24 anos, esse índice beira 71%). Há apenas um ano atrás, o uso de celulares como veículo de acesso à internet entre os britânicos era quatorze pontos percentuais inferior, o que vem a confirmar a rápida difusão dessa tecnologia também entre os súditos de Elizabeth II.

Segundo ELKIN (Fev. 2011), os usuários de smartphones nos Estados Unidos devem ter chegado a 71 milhões no final 2011, número que representa 31% da população de usuários de celulares no país. Até 2015, aproximadamente 110 milhões de americanos, ou 43% dos usuários de celulares, passarão a utilizar esses equipamentos, muito mais ricos de recursos do que seus antecessores e, por isso mesmo, muito mais capazes de promover verdadeiras experiências a seus proprietários. A esse grupo, une-se outro, de usuários de tablets que, se em 2010, ano da apresentação pela Apple dessa nova tecnologia, representavam 3,1% da população americana, até o final de 2011 subiram para 7,6% e tendem a continuar numa taxa de crescimento frenética pelos próximos anos. Trata-se de usuários, segundo pesquisa realizada pelo e-Tailing Group e publicada no e-Marketer (TABLETS beat smartphone for online shopping, Mai. 2011), com maior propensão a utilizar seus aparelhos para realizar compras: 10% dos usuários de tablets utilizam seus equipamentos para realizar compras online todos os dias, índice que gira em torno de 6% entre os usuários de smartphones.

O Brasil, que tem uma população de usuários de internet, com acesso em casa ou no trabalho e idade superior a 15 anos, da ordem de 40 milhões de pessoas, número semelhante ao encontrado em países como França, Reino Unido e Índia, superior ao de México e Argentina juntos e com a maior taxa de crescimento da América Latina (20% registrado entre 2009 e 2010), deve rapidamente seguir a tendência apresentada em outros países, conforme acima ilustrado, e também passar a utilizar os smartphones (e num futuro breve, também os tablets, ainda em fase inicial de introdução no mercado) como principal ou único veículo de acesso à internet (BANKS, Fev. 2011).

Corrobora com essa idéia o fato dos brasileiros demonstrarem grande propensão a ficar conectados à internet (24,3 horas, colocando o Brasil na quinta posição entre os países com maior número de usuários únicos – BANKS, 2011), bem como o fato, segundo GABRIEL (2011), dos usuários de smartphones ficarem conectados até 30 minutos por mês a mais do que os usuários de internet fixa (informação verbal)[1], informação em linha com ELKIN (Fev. 2011), que estima que o tempo gasto com smartphones cresce, nos Estados Unidos, mais do que com qualquer outro meio (28,2% em 2010), donde se pode inferir que o uso de smartphones pode favorecer essa aptidão dos brasileiros de permanecerem online.

Diante desses fatos, profissionais de marketing devem passar a lidar com o meio digital e, em particular, com as mídias veiculadas em smartphone e tablets, de outra maneira, adaptando peças e formas de comunicação às características desses novos veículos e aos hábitos que seu público-alvo passa a ter ao acessar a internet por meio dessa nova e cada vez mais freqüente ferramenta.

Confirma essa linha de pensamento uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela UM and Time Inc. sobre a satisfação, uso e receptividade à publicidade em iPads, segundo a qual é muito elevada a receptividade dos anúncios veiculados nas revistas em formato eletrônico para iPad, aos quais o leitor dedica mais tempo, particularmente atraídos pela cores mais vibrantes (86%) e pela possibilidade de interagir com o anúncio, acessando galerias de fotos, fazendo tours virtuais 360°, assistindo vídeos e lendo fichas técnicas detalhadas (82%), características indisponíveis em outras formas de mídia, mesmo online[2]. Tudo isso, segundo uma pesquisa realizada pela Nielsen, faz dos usuários de iPads muito mais aptos a realizar compras (IPADS ads engage magazine readers, 2010).

Esse processo de transformação de hábitos é tão veloz que, conforme afirma CASTELLS, em A Galáxia da Internet (p.8), é difícil para a pesquisa acadêmica acompanhar, com um suprimento adequado de estudos empíricos, os motivos dessa nova tendência, o que torna inédito praticamente todo projeto de estudos nessa área, especialmente se acompanhando desde seu processo embrionário, como é o caso do uso dos smartphones e tablets entre os brasileiros, o que faz pertinente uma pesquisa aprofundada que tenha por escopo estudar a influência dessas novas ferramentas como veículo de comunicação com o mercado.




[1] Informação fornecida por GABRIEL, MARTHA no Festival youPIX, realizado em São Paulo, em agosto de 2011.
[2] Cerca de 90% dos proprietários do tablet da Apple, também leitores de revistas, demonstraram interesse em adquirir uma assinatura para receber a versão on-line,o que amplia o espectro de ação de uma fração de curiosos atraídos pela nova tecnologia a um número crescente de potenciais consumidores.